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A Política como Refúgio de Impunidade:

A Crise Brasileira de Representatividade

Por Paulo Marcelo em 06/01/2025 às 13:24:22

Tenho dito: a política profissional no Brasil se tornou o lugar mais seguro para bandidos se esconderem da lei. Não é por acaso, é pela estrutura jurídica que protege os políticos da justiça comum. Essa blindagem não é uma falha; é um mecanismo intencional, desenhado para perpetuar um sistema onde os políticos não são iguais aos demais cidadãos perante a lei.

Um exemplo emblemático é Donald Trump, que perseguiu desesperadamente um novo mandato presidencial não pelo poder ou prestígio do cargo, mas porque sabia que, sem a presidência, enfrentaria processos e possível prisão. Aqui, no Brasil, a lógica é idêntica. Figuras como Bolsonaro e até Gusttavo Lima – que, ao que tudo indica, planeja ingressar na política – sabem que a política não é só um caminho para o poder, mas também para a salvaguarda jurídica.

A Blindagem Jurídica: Um Problema Estrutural

O salário de um presidente, governador ou parlamentar é baixo quando comparado ao que muitos desses políticos já ganham no setor privado ou em suas atividades anteriores. A motivação para ingressar na política não é econômica, mas sim a imunidade jurídica que o cargo oferece. A legislação brasileira dá aos políticos prerrogativas legais que tornam quase impossível que sejam responsabilizados pelos seus atos.

A lógica é cruel: não se alteram as leis que blindam políticos porque, mais cedo ou mais tarde, todos podem se beneficiar delas. Essa inércia legislativa é um dos maiores obstáculos para a consolidação de nossa democracia. A população brasileira está à mercê de um sistema em que os maus políticos fazem da política uma fortaleza contra a justiça, perpetuando a corrupção e o desgoverno.

O Grande Desafio: A Comunicação e a Verdade

No entanto, a crise não é apenas jurídica. Há também um problema cultural e comunicacional. A política hoje está mergulhada em uma disputa pela narrativa, onde o conceito de "verdade" se tornou fluido e manipulável. A ascensão do fascismo e da falsa religiosidade no Brasil não se deu apenas pela força de líderes carismáticos, mas pela habilidade de usar a linguagem para mobilizar medo, desinformação e apatia.

Grandes lideranças progressistas, como Ciro Gomes e Guilherme Boulos, tentaram adotar elementos dessa comunicação lúdica e simplista em suas campanhas, mas fracassaram. Não se derrota o inimigo falando a língua dele; derrota-se criando uma nova linguagem, um novo discurso, que aponte as contradições do sistema e ofereça soluções reais.

A Reforma Política: Um Caminho Inadiável

Se quisermos salvar a incipiente democracia brasileira, precisamos de uma reforma política estrutural. É essencial que o povo pressione os políticos para:

  1. Acabar com as prerrogativas que blindam políticos da justiça comum.
  2. Implementar mecanismos de fiscalização e transparência mais rigorosos.
  3. Estabelecer penalidades reais e imediatas para crimes cometidos no exercício do cargo.

Sem essa reforma, a política continuará a ser um refúgio para os desonestos, afastando pessoas comprometidas com o bem público e mantendo o sistema refém de interesses privados.

O Papel da Sociedade

A luta pela reforma política começa com a consciência coletiva. É preciso reconhecer que apoiar políticos "simpáticos" às boas causas, mas que aceitam a estrutura vigente, é aceitar a política tal qual ela está. A mudança exige enfrentamento, organização e o abandono de ilusões sobre o sistema atual.

É doloroso ver colegas que acreditam que pequenas concessões ou alianças de ocasião podem conter a ascensão de movimentos autoritários. Não é suficiente. O verdadeiro problema está na estrutura política que protege os maus políticos e perpetua a desigualdade, a corrupção e o desgoverno.

Conclusão

O Brasil precisa urgentemente de líderes que compreendam que o desafio não é apenas derrotar o fascismo ou as falsas narrativas religiosas, mas reconstruir a política a partir de bases éticas, justas e transparentes. Sem isso, a profissão continuará a atrair os piores, e nossa democracia seguirá fragilizada.

A comunicação é limitada, sim, mas ainda é uma arma poderosa. A originalidade e a clareza são indispensáveis para mobilizar uma sociedade que, embora desiludida, ainda tem o poder de exigir mudanças. Resta saber quem terá coragem de usar essa arma de forma transformadora.

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