O racismo estrutural no Brasil tem raízes profundas, com um legado histórico que remonta ao período colonial. A escravidão, que durou mais de 300 anos, não só explorou o trabalho dos africanos, mas também os desumanizou e os seguiu marginalizando ao longo dos séculos, mesmo após a abolição formal em 1888. Embora a escravidão tenha sido abolida, a exclusão dos negros da sociedade brasileira se perpetuou, sem acesso à terra, educação ou direitos básicos. O racismo estrutural, infelizmente, se manifesta até os dias de hoje, em um sistema que ainda privilegia certos grupos raciais em detrimento de outros.
Mas, para além da história, o que explica o preconceito presente na sociedade atual? Em termos psicológicos, o preconceito é frequentemente um mecanismo de defesa. Indivíduos que têm dificuldades em lidar com suas próprias inseguranças ou medos podem projetá-los sobre grupos considerados "inferiores". Esse processo, muitas vezes inconsciente, é reforçado pela educação cultural e social que os indivíduos recebem desde a infância. A psicanálise explica esse fenômeno como uma necessidade de criar uma identidade grupal superior, que desumaniza os outros e gera justificativas para atitudes discriminatórias.
O racismo estrutural se caracteriza por práticas discriminatórias que ocorrem dentro das estruturas políticas, econômicas e sociais, muitas vezes de forma inconsciente, mas que perpetuam a desigualdade racial. No Brasil, a população negra ainda enfrenta profundas desigualdades, desde a escassez de representatividade no poder público até a super-representação no sistema carcerário. A população negra tem menos acesso a educação de qualidade, à participação em cargos de gestão e, muitas vezes, é vista com desconfiança ou estigmatizada em diversas situações do cotidiano.
Os números são alarmantes: apenas 29,9% dos cargos gerenciais no Brasil são ocupados por negros ou pardos, enquanto a população negra representa mais da metade da população brasileira. No sistema prisional, os negros são maioria, representando cerca de 70% da população carcerária. Além disso, a renda média da população branca é duas vezes maior do que a da população negra. Esses dados são um reflexo claro de um sistema que privilegia uns em detrimento de outros, e que tem raízes na desigualdade histórica e no racismo institucional.
Uma das formas de combater esse racismo estrutural tem sido a implementação de políticas públicas de ação afirmativa, como as cotas raciais em universidades e empregos. A Lei de Cotas, sancionada em 2012, tem sido fundamental para aumentar a representatividade negra nas universidades, garantindo o acesso de grupos historicamente excluídos. Em 1997, apenas 1,8% da população negra frequentava o ensino superior; em 2011, esse número saltou para 11,9%, uma clara demonstração de como as cotas podem ser um fator de mudança.
Contudo, é importante destacar que, apesar dos avanços, o racismo estrutural ainda é perpetuado por diversas esferas da sociedade, inclusive no campo político. No Estado de Sergipe, por exemplo, ao avaliar o comportamento dos políticos sergipanos nas redes sociais, especialmente no Instagram, observei um dado preocupante: a ausência de manifestações consistentes sobre o Dia da Consciência Negra e a importância do combate ao racismo. Apesar de ser uma data importante, poucos políticos se manifestaram publicamente sobre o assunto, deixando de dar visibilidade a questões tão cruciais para a sociedade.
Em um momento em que o racismo continua a ser um dos maiores desafios do país, o silêncio de políticos sobre temas como a consciência negra e a luta antirracista nas redes sociais parece reforçar a indiferença ou até a perpetuação desse racismo estrutural. As redes sociais, que têm um grande poder de comunicação e influência, deveriam ser usadas como ferramentas para conscientizar a população sobre a importância da igualdade racial, e os políticos têm uma responsabilidade central nisso. Eles devem ser líderes na luta contra o racismo, promovendo um discurso de inclusão, representatividade e respeito às diferenças.
Essa análise sobre o comportamento dos políticos sergipanos nas redes sociais é um reflexo do cenário mais amplo do Brasil, onde muitas vezes a luta contra o racismo ainda é tratada como um tema secundário. As manifestações públicas, especialmente em datas como o Dia da Consciência Negra, deveriam ser vistas não como uma obrigação, mas como uma oportunidade de reafirmar o compromisso com a inclusão e a justiça social.
O Dia da Consciência Negra é mais do que uma data de lembrança. Ele representa um momento de reflexão e ação. É um convite para que todos, especialmente aqueles em posições de poder, se comprometam com a erradicação do racismo estrutural, que ainda permeia as estruturas sociais, políticas e econômicas do Brasil. Ao celebrarmos Zumbi dos Palmares e outros heróis da resistência negra, é essencial que, como sociedade, possamos nos unir em prol da construção de um país mais justo e igualitário para todos. O combate ao racismo não é uma luta de um dia, mas um compromisso diário de conscientização, ação e transformação social.