O debate sobre a jornada de trabalho é um tema histórico, que atravessa gerações e reflete a busca pelo equilíbrio entre produtividade, direitos e qualidade de vida. No Brasil, essa discussão ganhou força novamente com a insatisfação de trabalhadores submetidos à escala 6x1, que permite apenas um dia de folga por semana.
O balconista de farmácia Rique Azevedo trouxe essa pauta à tona em 2023, ao publicar um vídeo no TikTok criticando as condições de trabalho. O desabafo viralizou, deu origem ao movimento Vida Além do Trabalho (VAT) e levou o tema ao Congresso Nacional. Entre polêmicas e resistências, o debate atual reflete tanto os desafios históricos quanto a possibilidade de um futuro mais humano.
Criada em 1943 pelo presidente Getúlio Vargas, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) foi um marco na formalização das relações trabalhistas. Ela estabeleceu uma jornada semanal de 48 horas, além de direitos como carteira assinada, férias remuneradas e proteção contra demissões arbitrárias.
Apesar de sua importância, a CLT enfrentou críticas de empregadores preocupados com custos e de trabalhadores temerosos de perder seus empregos. Essas tensões mostram que qualquer mudança trabalhista é acompanhada por contradições, mas é essencial para o progresso social.
Em 1988, a nova Constituição representou um salto qualitativo para os trabalhadores:
Essas mudanças consolidaram a visão de que trabalho é um direito social, mas enfrentaram debates sobre custos e impacto no mercado.
A promulgação da PEC das Domésticas em 2013 garantiu direitos como carteira assinada, FGTS e pagamento de horas extras para trabalhadores domésticos, corrigindo uma injustiça histórica. Apesar de seu impacto positivo, a medida foi recebida com resistência de empregadores e dúvidas sobre sua viabilidade.
Esse marco evidenciou que mudanças trabalhistas não afetam apenas a economia, mas também a dignidade e a inclusão social.
Na gestão de Michel Temer, a CLT sofreu sua maior revisão desde a sua criação. Entre as mudanças introduzidas, destacam-se:
Embora defendidas como uma forma de modernizar o mercado de trabalho, essas mudanças foram amplamente criticadas por enfraquecerem direitos trabalhistas e aumentarem a precarização.
Em 2023, o balconista Rique Azevedo viralizou ao denunciar as dificuldades enfrentadas por trabalhadores submetidos à escala 6x1. Seu movimento, o Vida Além do Trabalho (VAT), propõe uma revisão dessa escala, buscando mais equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
A atual é considerada exaustiva e desumana por muitos trabalhadores. Inspirada por experiências internacionais, a pauta reflete o desejo crescente por qualidade de vida e maior convivência familiar.
Alguns países já implementaram jornadas mais curtas ou modelos flexíveis:
Por outro lado, a escala 6x1 ainda é amplamente adotada em países com economias emergentes, especialmente em setores como comércio e indústria.
Embora jornadas mais curtas tragam benefícios comprovados, a proposta enfrenta resistências:
Essas tensões não são novas e refletem as dificuldades históricas de equilibrar produtividade, direitos e sustentabilidade econômica.
Enquanto empresários criticam os custos de mudanças, muitos desfrutam de condições de trabalho privilegiadas, com mais tempo para a família e recursos para cuidar da saúde. Já o trabalhador comum, especialmente em escalas como a 6x1, muitas vezes sacrifica:
Como afirmou Karl Marx, "o tempo livre é a base do desenvolvimento humano." A geração Y, que valoriza equilíbrio e bem-estar, destaca a importância de repensar jornadas exaustivas, que não permitem ao trabalhador viver plenamente.
A história das jornadas de trabalho no Brasil é uma narrativa de avanços e contradições. Cada mudança trouxe benefícios, mas também gerou tensões e desafios. Hoje, a discussão sobre a escala 6x1 e a redução da jornada semanal não é apenas uma questão econômica, mas um reflexo de uma sociedade que busca mais tempo para viver, e não apenas para trabalhar.
Com diálogo e planejamento, é possível construir um modelo que beneficie tanto trabalhadores quanto empresas, promovendo um futuro mais justo e equilibrado.