Hoje trago mais uma história real.
Logo após uma aula sobre sentimentos, empatia e a importância de ouvir uns aos outros, um aluno me procurou com um pedido:
— "Professor, posso falar com você?"
— "Pode e deve, sempre que precisar, não hesite."
O estudante começou a abrir o coração:
— "Há quatro meses, tentei tirar minha própria vida. Tenho diagnóstico de TDAH e depressão, e sinto muita falta do meu pai, mesmo com mais de 20 anos..."
Naquele momento, percebi que minha função ia muito além de ensinar conteúdo. Eu poderia facilmente ter me aprofundado na minha própria experiência, já que minha história de vida tem semelhanças com a dele. No entanto, escolhi usar a comunicação empática e acolhedora, onde a escuta é prioridade. Ao invés de sobrepor a minha história à dele, eu deixei que ele se expressasse plenamente, oferecendo um espaço seguro e sem julgamentos. Compartilhei apenas alguns pontos da minha trajetória, o suficiente para que ele soubesse que não estava sozinho, e que outras pessoas, incluindo eu, já passaram por dores similares.
Respondi, então, com toda a atenção e acolhimento que pude:
— "Filho, todos nós temos desafios na vida, e às vezes eles podem parecer grandes demais para enfrentar sozinho. Mas o que precisamos lembrar é que, aquilo que não nos ajuda a seguir em frente, podemos aprender a abandonar. Busque apoio em quem te faça sentir seguro e te encoraje. Nunca pense que está só. Depressão não é fraqueza e não é frescura. Você é bem-vindo a me procurar sempre que precisar."
Esse tipo de comunicação é chamado de comunicação empática ou comunicação de escuta ativa, onde o papel do comunicador é ouvir mais do que falar, entender a vivência do outro e se conectar genuinamente com os sentimentos e necessidades dele. Essa abordagem é fundamental, pois permite que o aluno sinta que está sendo verdadeiramente ouvido e compreendido, sem que sua experiência seja ofuscada. É uma forma de mostrar que ele é único em suas emoções, mas não está sozinho em sua dor.
Em um país onde a depressão atinge cerca de 11,3% da população, segundo a Organização Mundial da Saúde, esse apoio é essencial. Dados mostram que o Brasil tem a maior taxa de depressão na América Latina e uma das maiores de ansiedade do mundo. Além disso, o suicídio, uma consequência triste e extrema, ainda é uma realidade entre os jovens: a cada 45 minutos, uma pessoa perde a vida por suicídio no Brasil. São números alarmantes e que nos lembram da importância de falar sobre saúde mental, tanto dentro quanto fora da sala de aula.
O papel do professor vai além de ensinar conteúdos programáticos; ele pode ser um porto seguro, uma referência de apoio e compreensão. E um bom comunicador também precisa ser um bom ouvinte. A escuta ativa e a empatia podem abrir portas para diálogos que ajudam a transformar vidas e mostrar caminhos. Como educadores, temos a chance de acolher, ouvir e orientar — muitas vezes, somos a linha de apoio que pode ajudar nossos alunos a encontrar força para seguir em frente. Ensinamos sobre matérias e conceitos, mas também sobre resiliência e humanidade.
A depressão não é uma condição para se enfrentar sozinho, e cada gesto de acolhimento pode fazer a diferença na vida de alguém. Que nossos espaços de ensino sejam também espaços de acolhimento, onde cada um se sinta amparado para buscar ajuda e nunca enfrentar suas dificuldades em silêncio.