Já sentiu isso? A sensação de estar falando e ninguém ouvir? De gritar por dentro e o mundo seguir como se nada estivesse acontecendo? De querer desabafar, mas não encontrar ninguém disposto a escutar? Esses sentimentos, tão comuns em quem enfrenta a depressão, são um alerta para um problema que precisa ser discutido com urgência: a saúde mental.
A Ponte Vaza-Barris, chamada popularmente de "Ponte da Tristeza", é envolta em crenças que falam sobre anjos da guarda intervindo em momentos de desespero. Recentemente, um vídeo sobre a Ponte do Rio Vaza-Barris, local conhecido por ser palco de trágicos casos de suicídio, viralizou e fez a sociedade refletir sobre o que pode ser feito para mudar essa realidade. No entanto, o problema não se limita a um único lugar. Ele está ao nosso redor, nos silêncios, nas mensagens não respondidas, nos olhares desviados. É aquela sensação de que o mundo não te vê, de que ninguém te escuta.
A depressão não é frescura. É a ausência de vitalidade. É uma doença que afeta milhões de pessoas, independentemente de sua fé, classe social ou status. Há casos de padres, pastores e líderes religiosos, pessoas de profunda espiritualidade, que infelizmente tiraram a própria vida. Isso nos mostra que não basta apenas "procurar Deus"; é preciso buscar ajuda profissional e apoio humano.
Existe um tabu em torno do suicídio. Muitos julgam, dizem que "falta Deus" ou que "é frescura". Mas, se fosse assim, personalidades como Padre Fábio de Melo e Padre Marcelo Rossi não teriam enfrentado a depressão. Artistas, atletas, cientistas... a dor não escolhe classe social, religião ou sucesso.
Santos Dumont, o pai da aviação, lutou contra crises depressivas e há relatos de que tirou a própria vida. Vincent van Gogh, um dos maiores pintores da história, também enfrentou a depressão severa. Grandes nomes da música, como Kurt Cobain, Chester Bennington e Amy Winehouse, perderam a batalha contra seus próprios demônios. Esses exemplos mostram que a depressão é uma doença que precisa ser levada a sério.
O sociólogo Zygmunt Bauman, um dos pensadores da modernidade que mais admiro, em sua teoria da modernidade líquida, explica como vivemos em uma sociedade onde tudo muda rápido, as relações são instáveis e a pressão por produtividade nos esgota. As pessoas não têm tempo para ouvir umas às outras, e isso piora ainda mais o isolamento emocional de quem já está sofrendo.
A vida está cada vez mais acelerada, mas precisamos parar e refletir. Às vezes, escutar alguém pode salvar uma vida.
Os Números que Assustam
Os dados mostram a gravidade do problema:
No Brasil, uma pessoa morre por suicídio a cada 45 minutos.
O suicídio é a quarta principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.
A taxa de suicídio entre jovens brasileiros aumentou 6% ao ano.
Globalmente, mais de 700 mil pessoas tiram a própria vida anualmente.
A depressão é considerada a doença do século XXI e está entre as principais causas de afastamento do trabalho. Os índices crescem, mas a sociedade ainda não está preparada para lidar com isso. Faltam profissionais capacitados, que compreendam o paciente além dos diagnósticos e prescrições automáticas. Muitas vezes, quem sofre não encontra acolhimento nem no sistema de saúde, nem na própria família.
Um dado alarmante: o maior índice de suicídio no mundo está entre os homens. A pressão social para que sejam "fortes" e não demonstrem fragilidade os impede de buscar ajuda. Mas pedir ajuda não é fraqueza. Fraqueza é sofrer sozinho quando há caminhos para sair dessa escuridão.
Precisamos parar de tratar a depressão como frescura ou falta de fé. É uma doença real, e quem sofre com ela precisa de acolhimento, não de julgamentos. Se você conhece alguém que está passando por um momento difícil, ouça. Pode parecer pouco, mas para quem está no limite, ser ouvido pode salvar uma vida.
E se você está enfrentando essa batalha, procure ajuda. Você não está sozinho. Falar sobre saúde mental não pode ser um tema de apenas um mês. É um problema diário, que precisa de atenção, políticas públicas e mais acessibilidade ao tratamento. Porque o silêncio pode matar.
Fonte: Organização Mundial da Saúde (OMS)