O Reino de Maní - By Aimée
A infância é uma época em que pouca coisa lembramos, mas dessas poucas, são elas que levamos como referência em nossos gostos, afetos e memórias. Pequenos momentos que pareciam banais na época tornam-se preciosidades quando revisitamos as lembranças.
O tempo é realmente corrido. Quando nos damos conta, os dias passaram, os meses voaram e os anos moldaram tudo ao nosso redor. Talvez seja exatamente por isso que começamos a entender o valor de viver o hoje de uma forma especial. Apreciar cada instante, dar significado ao que antes parecia trivial. Valoroso ou caloroso, sentir a saudade daquilo que já passou é também enxergar a cidade crescendo ao nosso redor e perceber que não temos controle sobre isso.
A cidade cresce, carrega histórias, memórias coletivas e individuais. As fachadas mudam, novas construções surgem, velhas portas são substituídas, mas cada canto ainda guarda resquícios do que já foi. Os espaços que um dia marcaram nossos passos tornam-se as referências de novas gerações. As ruas que antes ecoavam nossas brincadeiras agora são preenchidas pelo movimento apressado de outros tempos.
Sentir a paz ao caminhar por certos bairros de Aracaju é um convite à nostalgia. Rever fachadas, percorrer ruas conhecidas, sentir o cheiro das árvores moldadas pelo vento, ver o brilho do sol refletindo no Rio Sergipe... Tudo isso carrega um impacto avassalador. Talvez as crianças de hoje não percebam esses detalhes, mas um dia também sentirão essa nostalgia. Lembrarão de como era andar na calçada da praça próxima de casa, das risadas correndo entre os carros estacionados, das pessoas caminhando apressadas ou despreocupadas, cada uma presa a seu próprio tempo.
É quase como um processo de desacostumar contínuo. Vivemos as épocas, corremos para nos adaptar a elas, e deixamos que o futuro seja acompanhado por aqueles que virão depois de nós. O passado se transforma em memórias, o presente em oportunidades e o futuro em mistério.
E assim, vemos o desenho da nossa cidade se modificar constantemente. Um caminhar intrigante, onde a economia, a moradia e a quantidade de pessoas respirando esse ar aracajuano criam novas histórias a cada dia. O tempo, esse grande arquiteto, esculpe com paciência e impaciência as mudanças que nos rodeiam. Muitas vezes, nos pega desprevenidos, mas sempre nos deixa marcas.
O que antes era um descampado agora é um shopping. O velho campo de futebol do bairro deu lugar a um prédio moderno. A mercearia da esquina fechou, mas a padaria ao lado resistiu ao tempo. Cada espaço tem sua trajetória, assim como nós. A cidade é um organismo vivo, em constante metamorfose, e nós crescemos com ela, adaptando-nos ao novo, mesmo quando ainda nos apegamos ao velho.
Talvez seja isso que o tempo nos ensina: a mudança é inevitável, mas as lembranças são eternas. Lembro de ter sentado a última vez na mesa do meu avô, olhado tudo ao redor e então escutado a voz da minha avó gritando: "Venha comer!". E lá fui eu andando pelo corredor, observando cada detalhe dos quadros, principalmente o de três rostos que ela desenhou. Depois, olhei para o quadro de cavalos no quarto do meu tio.
Logo após, na sala, vi o quadro da Santa da minha avó pendurado na parede, a mesa com uvas de mentira que ela ganhara como presente de casamento, e a cadeira de balanço do meu avô. Finalmente, cheguei à cozinha, iluminada pelo quintal, ouvindo o som da rádio que minha avó sempre escutava. O cheiro de queijo derretido e inhame se misturava ao ar, trazendo um aconchego indescritível.
O tempo pode passar, mas certas imagens, cheiros e sons permanecem gravados em nossa memória, como fragmentos de um passado que nos molda. E assim, seguimos, colecionando lembranças que nos fazem ser quem somos.